Por que optar por espécies nativas?

cambuci, árvores frutífera símbolo da cidade de são paulo | imagem: árvores de são paulo
cambuci, árvores frutífera símbolo da cidade de são paulo | imagem: árvores de são paulo

Ainda é muito comum encontrar residências e espaços livres, principalmente em condomínios, com grandes áreas de grama. Eu, particularmente, não gosto, mas além do lado estético, existem diversas outras questões que envolvem a escolha de espécies exóticas no paisagismo, como a invasora grama-esmeralda (Zoysia japonica), que exige manutenção constante com grandes quantidades de água.

Optar por espécies nativas, ou seja, que ocorrem naturalmente em uma região ou ecossistema, traz inúmeros benefícios ao meio ambiente e, consequentemente, às vidas de seus usuários, no caso do meio urbano.

Espécies exóticas são aquelas que ocorrem em uma área fora de seu limite natural historicamente conhecido e podem se comportar como invasoras, mas nem toda a espécie exótica é invasora. Todas as espécies que se tornam invasoras são altamente eficientes na competição por recursos, o que leva a dominar as espécies nativas originais.

Seguem algumas razões para optarmos por espécies nativas:

  • Por estarem adequadas a determinado clima, precisam de menos manutenção, nutrientes e irrigação;
  • São menos suscetíveis a ataques de pragas, dispensando adubos químicos;
  • Contribuem com a diversificação da fauna, já que o alimento produzido é exatamente os que os animais nativos precisam;
  • Fazem parte de uma determinada área vegetada onde uma espécie ajuda a outra, de diversas formas;
  • Só na Mata Atlântica, existem mais de 500 espécies das mais variadas formas, das mais lindas flores das mais cobiçadas madeiras do mundo;
  • A vegetação nativa protege as encostas e mananciais, evitando o assoreamento dos rios e reservatórios, a erosão, a compactação dos solos, a perda da fertilidade e a desertificação.

E algumas outras para evitarmos as espécies exóticas:

  • Por não terem predadores naturais, essas espécies podem se multiplicar sem controle, tornando-se assim uma praga, como é o caso do Eucalipto;
  • Algumas espécies exóticas têm as raízes muito bem preparadas para absorver toda a água que conseguirem;
  • Por não terem uma boa relação com a vegetação local, podem competir desigualmente pelo espaço, chegando até matar as espécies nativas;
  • A proliferação pode ser descontrolada, como é o caso da Leucena (Leucaena leucocephala), que em seu habitat nativo desenvolveu uma estratégia de produzir milhares de sementes, de modo que, ao menos algumas germinem mesmo em ambientes muito secos.

A cidade de São Paulo

A metrópole paulistana apresentava um passado muito rico em vida vegetal e animal, com paisagens como Mata Atlântica, cerrados, bosques de araucárias e várzeas. Todas essas inúmeras formas de vida e o equilíbrio existente entre elas foi resultado de milhões de anos de evolução com o clima e o solo locais.

No processo de urbanização dos últimos cem anos, São Paulo perdeu quase toda a cobertura vegetal, e a vegetação plantada entre as avenidas e prédios nada tinha a ver com essa biodiversidade original. Razões culturais e de preconceito com as plantas nativas levaram a essa situação, relegadas ao pejorativo “mato” enquanto as trazidas de longe eram “ornamentais” e muito valorizadas.

Assim, a maior parte das plantas que vemos atualmente nos jardins, paisagismo e lojas é exótica, ou seja, não ocorria naturalmente na vegetação original da região. Com isso, além do desconhecimento e sumiço das plantas nativas, essas plantas ornamentais vindas de diversas localidades do planeta e Brasil acabaram em muitas situações ocupando o espaço das nativas por não terem inimigos naturais e grande capacidade de adaptação ao nosso convidativo clima.

espécie ficus benjamina no viaduto maria paula, com mais de 15 metros de altura | imagem: árvores de são paulo
ficus benjamina, no viaduto maria paula, com mais de 15 metros de altura | imagem: árvores de são paulo

Na cidade o problema é hoje tão sério que fragmentos de Mata Atlântica e cerrados sobreviventes estão com a maior parte de sua área invadida por ornamentais exóticas com essa capacidade. Em terrenos abandonados na malha urbana, a vegetação espontânea é quase toda artificial, de plantas introduzidas pelo homem, quando naturalmente deveria ser de Mata Atlântica ou cerrado. Esses processos levam a irrecuperável extinção de plantas e animais evoluídos em um período de tempo ancestral.

Considerações finais

Com uma simples ação de plantar uma árvore nativa estamos contribuindo para que essas e muitas outras espécies não desapareçam. Vivemos em um país com a maior biodiversidade do mundo, não faz sentido trocar essa riqueza por plantas exóticas, mesmo sendo elas muito chamativas e ornamentais, elas simplesmente não fazem parte do nosso habitat e causam uma série de danos, um exemplo é o Flamboyant (Delonix regia), que tem seus troncos nada resistentes ao nosso excesso de vento representando perigo ao cair, o Ficus de todas as variedades que tem suas raízes grandes e expostas quebrando muros, calçadas, piscinas e cisternas para buscar água e as tantas palmeiras exóticas que têm frutos que podem intoxicar nossos pássaros e animais.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a invasão biológica pode ser considerada atualmente a segunda maior causa de perda de biodiversidade no mundo.

Como enfrentar esse problema?
Os profissionais arquitetos, paisagistas e agrônomos, responsáveis pela organização do espaço urbano, têm o papel de informar o consumidor final dessa situação encontrada hoje em nossas cidades.
Somente através da conscientização será possível valorizar as nossas espécies nativas, fundamentais para o equilíbrio do nosso meio ambiente.

A Item 6 Arquitetura conta com a experiência da arquiteta e paisagista Camila Simhon no desenvolvimento de projetos paisagísticos que seguem a linha orgânica, funcional e do ecopaisagismo.

Fonte: Árvores de São Paulo e Árvores Brasil