Você já ouviu falar em obsolescência planejada ou programada?
Pois é, talvez você não a conheça pelo nome, mas certamente já se sentiu enganado de alguma forma por conta de um produto que deveria durar mais.
Segundo a Wikipedia, trata-se da decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar e distribuir um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não-funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto.
Basicamente, obsolescência planejada, é determinar quando um produto vai falhar ou se tornar velho, programando seu fim antes mesmo da ação da natureza e do tempo de uso. Trata-se da estratégia de estabelecer uma data de morte de um produto, seja por meio de mau funcionamento ou envelhecimento perante as tecnologias mais recentes.
Percebem, com esta breve introdução ao tema, a gravidade dessa situação vivida por todos nós diariamente?
Então continuarei adiante, agora citando alguns exemplos concretos dessa armadilha do consumismo a qual caímos, há muito tempo, como vítimas protagonistas.
Como tudo começou…
Lâmpadas que poderiam durar toda uma vida, impressoras programadas para pararem de funcionar, telefones celulares que “saem de moda” e por aí vai, a troca pode ser induzida a acontecer através do próprio produto que para de funcionar ou também pelo apelo comercial através do marketing que incentiva o consumismo desenfreado.
Essa prática começou a acontecer nos anos 1920 e está vinculada à Grande Depressão, durante a profunda crise econômica que marcou esse período, diante de um mercado consumidor impotente, que diminuiu o lucro das empresas, aumentando o desemprego e, consequentemente, reduzindo o consumo.
Alguns exemplos
O exemplo mais citado por estudiosos, críticos e especialistas no assunto é o do cartel organizado por grandes empresas que produziam lâmpadas. Elas se organizaram para reduzir o tempo de vida útil de uma lâmpada a fim de aumentar as vendas dos produtos.
Sabe-se que no início do século XX, as lâmpadas tinham uma vida útil média de 2.500 horas, entretanto, após a Grande Depressão e a formação do cartel, o tempo de vida útil foi reduzido abruptamente para 1.000 horas.
Você sabia que existe uma lâmpada no Corpo de Bombeiros de Livermore, na Califórnia, que funciona ininterruptamente desde 1901!
Ela é monitorada em tempo real, já se estragaram duas webcams e a lâmpada continua funcionando, firme e forte, confira o vídeo (legendas em inglês):
Outro exemplo que mostra com muita clareza a interferência dos fabricantes na estrutura do produto é o da indústria têxtil, quando em 1940, o gigante químico Dupont apresentou uma fibra sintética revolucionária: o nylon.
Para as mulheres, as meias-calças duradouras e resistentes foram um grande progresso, mas a alegria durou bem pouco, pois quando os fabricantes perceberam que não venderiam muitas meias, trataram de refazer os produtos com fibras mais frágeis, que rompessem rapidamente, para que não durassem tanto.
Já entrando nas questões sob influência do marketing, pode-se citar o caso do lançamento do iPad 4, da empresa Apple, que foi processada pelo Instituto Brasileiro de Política e Direito da Informática por lançar a versão poucos meses depois de ter colocado em circulação o iPad 3. Os usuários desse item, diante do lançamento de uma nova versão que praticamente não apresentava diferenças técnicas, viram o seu produto como obsoleto e procuraram comprar a nova versão.
Vale lembrar que essa não é uma ação de uma única empresa, mas uma tendência coletiva de mercado.
Capitalismo e descarte
Na sociedade de consumo, as estratégias publicitárias e a obsolescência planejada mantêm os consumidores presos em uma espécie de armadilha silenciosa, num modelo de crescimento econômico pautado na aceleração do ciclo de acumulação do capital: produção-consumo-mais produção.
Para aumentar a acumulação de riquezas privadas, o capital devasta, destrói, esgota a natureza. Na sociedade da obsolescência induzida, tudo acaba em lixo e quanto mais rápida e passageira for a vida dos produtos, maior será o descarte.
“Obsolescência planejada: o desejo do consumidor de possuir algo um pouco mais novo, um pouco antes do necessário”.
A publicidade continua sendo uma aliada fundamental para manter acesa a chama do consumo e da taxa decrescente do valor de uso das mercadorias, fazendo dos consumidores vítimas de uma armadilha invisível.
Enfim, esse é um tema que está muito longe de se esgotar, ao contrário dos nossos recursos naturais, finitos e utilizados de maneira tão irresponsável.
E para quem se interessar em conhecer um pouco mais sobre a obsolescência planejada, sugiro assistir o vídeo a seguir, com duração aproximada de 52 minutos.
Confira também o post sobre o documentário “A História das Coisas”, que nos alerta sobre as consequências do consumismo desenfreado.
Fonte: Brasil Escola