Você faz parte do trânsito?

O trânsito está cada vez mais insuportável!

Quem mora em São Paulo, como eu, ou mesmo em outra grande cidade, deve ter se identificado com essa frase, já que convivemos diariamente com ele de alguma forma. Mas hoje, numa sexta-feira, dia em que o trânsito por aqui costuma ser dos piores, ao praguejar (como de costume) contra o dito cujo de dentro do meu carro, imediatamente pensei: Eu estou nele, né? Estou contribuindo para a sua existência, então não tenho o direito de reclamar. Engole o choro.

Sempre que converso com amigos de fora de São Paulo, tento explicar que é possível ter uma vida menos turbulenta por aqui e que nem todo mundo passa horas no trânsito como costumam mostrar na TV, é tudo uma questão de organização, pois existe a possibilidade de se morar perto do trabalho e, quando isso acontece, as pessoas conseguem interagir com a cidade da forma que deveriam, usufruindo dos serviços locais e evitando grandes deslocamentos.

 

trânsito caótico nos dois sentidos da av. 23 de maio, na capital paulista

Só que obviamente nem todos têm essa alternativa, já que a maior parte da população vive nas periferias e precisam enfrentar longos trajetos diários ao trabalho, tanto de carro como de transporte público, o que não é nada funcional. Milhares de pessoas perdem horas valiosas de seu dia em engarrafamentos gigantescos de veículos nas vias já saturadas ou amontoados como animais em ônibus ou vagões nos horários de pico, isso tudo para ainda enfrentar uma jornada de trabalho e depois voltar para casa, desumano, não?

Eu, particularmente, detesto dirigir, o faço por necessidade e há algum tempo venho ensaiando um plano B para levar e buscar meu filho pequeno à escola: a bicicleta. Mas ainda não me sinto nada segura em disputar na raça o espaço que os carros não pretendem abrir mão, ainda mais com uma criança na garupa. Se fosse em um caminho de ciclovias, seria perfeito, pois elas são seguras, mas como não teria esse benefício no meu trajeto, ainda preciso pensar muito a respeito.

Sim, as ciclovias, quanta polêmica e quanta politicagem em cima da transformação revolucionária e inédita a qual a cidade de São Paulo está passando. Finalmente o tema da mobilidade urbana é destaque nas ações públicas mas ainda tem gente que joga contra, dá pra acreditar? A verdade é que todo mundo só sabe invejar as soluções de fora do país e quando alguém resolve implantar por aqui todos esses modelos urbanísticos comprovadamente eficientes, é visto como louco, simplesmente por essas mudanças forçarem as pessoas a saírem de sua zona de conforto. Pra que pensar no coletivo, não é mesmo?

E apesar do transporte público ainda estar longe de ser um modelo de eficiência, temos sim opções disponíveis para deixar o carro na garagem, mas é preciso se organizar, pesquisar os itinerários e ter boa vontade de dividir o espaço com outras pessoas, o que para alguns paulistanos algumas pessoas é uma situação impensável. Juro pra você que pegar um busão não dói, você ainda chega bem mais rápido ao seu destino que de carro, por conta dos corredores espalhados pela cidade e fica com a sua consciência tranquila por não contribuir com o trânsito cada vez mais caótico.