Cidades biofílicas

O termo biofilia é novo para mim e acredito que para muitas pessoas também. Ele foi popularizado pelo biólogo americano Edward Osborne Wilson que o definiu como “uma tendência natural a voltarmos nossa atenção às coisas vivas”.

Já quanto a aplicação do termo às cidades, o escritor Timothy Beatley defende que são aquelas que, através de um desenho urbano adequado, permitem que seus habitantes desenvolvam atividades e um estilo de vida diretamente ligados à natureza, seu aprendizado e cuidado.

Em resumo, são lugares planejados para estimular a relação entre pessoas e natureza e algumas cidades já foram classificadas como biofílicas, como: São Francisco, Nova Iorque, Seattle, Wellington, Oslo e Birmingham.

Confira a sete características das cidades biofílicas:

1) Natureza abundante próxima às cidades com grande número de habitantes:

Objetivo a ser alcançado através de programas públicos e projetos de revitalização e implantação de áreas verdes.

Nova Iorque se qualifica como uma cidade biofílica, já que conta com o programa PlaNYC, que pretende que em 2030 cada habitante da cidade tenha um espaço público verde a 10 minutos de caminhada.

 

nova iorque, cidade e natureza integradas | imagem: loving new york

2) Afinidade dos cidadãos com a flora e fauna nativas:
Valorização das riquezas naturais locais para que os cidadãos, através de programas educacionais, possam conhecê-las e preservá-las.

3) Atividades ao ar livre e em contato com a natureza:
Criação e interligação dos espaços ao ar livre de modo a promover e facilitar seu uso e acesso pela população.

Cingapura já conectou seus parques, integrando 200 km de caminhos por meio de passarelas suspensas que permitem que os visitantes acessem os parques de diferentes pontos da cidade.

 

passarelas suspensas ligando parques em cingapura | imagem: cumbicão

4) Ambientes multissensoriais:
Espaços criados ou adaptados para oferecer experiências visuais, sonoras e olfativas, por exemplo, relacionadas à natureza e à biodiversidade locais.

5) Educação no campo da natureza e biodiversidade:
Incentivo de ações comunitárias que busquem a integração das pessoas com a cidade, por um estilo de vida mais natural e humano.

As cidades biofílicas dão importância à educação em campo, por proporcionar a integração entre as pessoas em contato com a natureza, podendo ser através de caminhadas guiadas, acampamentos, hortas comunitárias, voluntariado para recuperar áreas degradadas, entre outras atividades.

 

exemplo de horta comunitária, cada vez mais presentes nas cidades | imagem: jardim do mundo

6) Investimento em infraestrutura social e urbana que favoreça a conexão entre cidade e natureza:
Através da criação de espaços urbanos como parques, museus, escolas, centros de convivência, entre outros, que priorizem a conexão dos cidadãos com as questões  ambientais.

7) Conscientização sobre as questões ambientais e seus impactos:
Criação e implementação de planos de ação para a proteção da biodiversidade local.

A cidade de Vitória-Gasteiz, no País Basco, está cercada por um cinturão verde para limitar o desenvolvimento da cidade e proteger o pantanal Salburua. Como este plano tem dado bons resultados, está sendo estudada a possibilidade da criação de um anel verde interno para levar as áreas verdes para dentro da cidade.

 

parque olarizu vitoria-gasteiz | imagem: landarchs

Por cidades mais humanizadas

Resumindo, a cidade biofílica busca uma maior integração entre seus cidadãos e a natureza, através de investimentos em diversas áreas onde o objetivo final seja a valorização dos espaços verdes e da biodiversidade local.

Precisamos que as cidades sofram essa transformação, mas principalmente que seus usuários percebam a importância de fazer parte de um novo conceito de habitar, onde haja mais interação entre as pessoas por uma causa comum.

É preciso também que haja mais cobrança ao governo, contra a especulação imobiliária desenfreada, tão comum nas grandes cidades, por projetos de mobilidade urbana que valorizem de uma vez por todas o pedestre e os deslocamentos menos destrutivos e pela implantação e preservação de áreas verdes, capazes de oferecer uma melhor qualidade de vida a todos os cidadãos.

 Fonte: Arch Daily