Cafeteira para menino

Como é irritante essa coisa de brinquedo de menino e de menina! Desde pequenas as crianças são incentivadas a escolherem cores, personagens, brinquedos e brincadeiras de acordo com seu gênero, tudo padronizado por nós, adultos muitas vezes mal resolvidos, para que elas sigam a “ordem natural das coisas”. Pois é, só que nem todos os pais continuam dispostos a acatar esse tipo de comportamento ultrapassado ditado pelos fabricantes de brinquedos, que além de incentivarem comportamentos com valores duvidosos, impedem que as crianças experimentem novas situações de faz de conta.

Vou dar um exemplo pessoal. Meu filho, de 5 anos, adora brincar de casinha, tanto na escola, onde todos compartilham xicrinhas e talheres na hora do chá, como também em casa. Talvez para ele seja muito normal, já que seu pai adora cozinhar e sempre dividimos as tarefas domésticas cotidianas. Só que de uns tempos pra cá ele mostrou um enorme interesse pela cafeteira e como a brincadeira com o eletrodoméstico “de verdade” não parecia muito confiável, resolvemos procurar uma de brinquedo.

Simples, né? Não, nem um pouco. Em uma primeira pesquisa só encontramos as cor de rosa ou temáticas para meninas, inclusive com personagens, como a Frozen. É só fazer uma busca rápida no Google para comprovar que as imagens são, em grande maioria, do item na cor rosa e quando neutras ou coloridas, são geralmente importadas e custam mais caro que as de verdade por aqui. Mas finalmente encontramos uma da marca Maral, colorida, a um preço acessível e que fez o maior sucesso em casa.

 

sucesso em casa com a cafeteira de brinquedo colorida | imagem: maral

E gostaria de deixar claro que não veríamos problema algum dele ter brinquedos com motivos femininos, até porque ele tem alguns, já que nem sempre é fácil encontrá-los em outros padrões, o que incomoda mesmo é perceber que algumas categorias de brinquedos, como os eletrodomésticos em geral, são direcionados às meninas e ignoram completamente as transformações de papéis da nossa sociedade.

Na Europa é bem mais comum encontrar brinquedos sem essas distinções, isso porque as divisões de tarefas dentro de casa independem de gênero e as crianças aprendem desde cedo a experimentar em suas brincadeiras o que vivenciam no dia a dia.

O contrário também acontece, assim como as Princesas Disney atendem sob medida às meninas e ainda as ensinam a acreditar no príncipe encantado como garantia de felicidade, empresas como a Lego sempre priorizaram os meninos como seus principais clientes.

Como mudar essa situação?

A começar pelas lojas de brinquedos, que tal não separar mais os produtos em “meninos e meninas” e sim por categorias, como bonecas, carros, jogos, eletrodomésticos, ferramentas e assim por diante? Vários brinquedos são dispostos em uma espécie de limbo das prateleiras, em um cantinho junto com outros sem classificação definida. Já aos fabricantes, deixo uma dica valiosa, vocês estão sendo bem incompetentes ao não se adaptarem a essa nova realidade, continuam a pulverizar o mercado com padrões ultrapassados e nada educativos às nossas crianças. E parabéns à Maral, que disponibiliza cozinhas, carrinhos, utensílios domésticos e caixas de ferramentas bem coloridos e democráticos, que certamente terão importante papel na formação de crianças mais humanas e menos intolerantes.