Pintura ecológica – parte 1

Quero muito compartilhar aqui com vocês uma experiência super positiva que tive ao pintar os muros do quintal da minha casa com uma tinta ecológica e totalmente artesanal!

Estou falando da pintura caiada, velha conhecida dos pintores raiz, e que apresenta várias vantagens em comparação às tintas convencionais, como baixo custo, fácil aderência e aplicação, não agride o meio ambiente, são livres de COVs (compostos orgânicos voláteis) que são substâncias tóxicas presentes nos produtos industrializados, possui ação fungicida e bacteriana, entre outras.

Onde aplicar?

Por ser uma pintura totalmente rústica, ela é indicada a locais onde essa aparência já seja esperada, mas nada impede que seja aplicada em paredes internas também, vai depender mesmo do gosto do freguês. A única ressalva é que a superfície não tenha massa corrida ou acrílica, pois essa mistura precisa de uma base porosa para sua total aderência, paredes de concreto ou chapiscadas, por exemplo, são ideais.

Outra vantagem é que por ter um efeito rústico, a superfície não demanda grandes preparos, apenas é preciso lixar ou raspar as camadas de massa que existirem para garantir uma boa aderência da cal, mas se não for o caso, é só aplicar diretamente.

Cores

Na minha opinião, essa é a parte mais legal da brincadeira, pois você pode criar suas próprias cores com corantes e pigmentos naturais! Dá pra acreditar que eu usei curry e páprica para chegar no tom amarelado que eu queria? OK, tive uma ajudinha do corante Xadrez, antigamente só tinha o pó, mas hoje existem os tubinhos em diversas cores. Daí é só usar a imaginação e ir testando os tons, folhas de carqueja e boldo para os verdes, anil em pó (concentrado) para os azuis, açafrão, cúrcuma e curry para os amarelos, urucum para alaranjar, terra e pó de café pilado e peneirado para os marrons e por aí vai…

Mas atenção, não espere por um acabamento fino nessa pintura nem cores muito vibrantes, o resultado final sempre apresentará manchas e algumas imperfeições, já que que a mistura se aproxima mais de uma textura do que de uma tinta líquida.

Na prática

Esse era um dos muros do quintal antes da pintura, com várias imperfeições em sua superfície e pontos de umidade na base, que não foram impeditivos para aplicação da mistura com cal.

 

muro antes da pintura, cheio de imperfeições e vários pontos de umidade | imagem: arquivo pessoal

Então vamos à receita, essa já é metade da original, até para caber melhor em um balde grande de 10 litros e fazer menos sujeira. Essa quantidade é suficiente para aproximadamente 6 m² de área, mas isso pode variar de acordo com o número de demãos e as condições da parede.

  • 4 kg de cal hidratada para pintura ou 1/2 pacote (a venda em lojas de materiais de construção);
  • 5 litros de água;
  • 1 kg de cola branca (mais fácil de achar tubos de 500 g);
  • 75 ml de óleo de linhaça;
  • 75 g de sal refinado (+ou- 6 colheres rasas de sopa);
  • corante ou pigmento de preferência e na quantidade até dar o tom desejado.

Algumas receitas orientam a deixar a cal de molho na água por 24 horas, eu, muito afobada que sou, só percebi esse detalhe depois de ter misturado todos os ingredientes, mas farei isso da próxima vez, parece que esse tempo de cura é importante para melhorar a fixação da tinta.

 

preparo da tinta ecológica em balde plástico, antes e durante a mistura | imagem: arquivo pessoal

Misturei todos os ingredientes em um balde plástico de 10 litros com ajuda de uma colher de pau, mexendo bem até a pasta ficar uniforme. Daí é só deixar o corante para o final e ir dosando aos poucos até ficar na cor desejada.

Para a aplicação eu utilizei uma broxa retangular, não tem erro, é só mergulhar no balde, deixar escorrer um pouco e aplicar na parede. Não tem muita regra, nem é preciso seguir um padrão, saia pintando, até porque essa primeira demão vai funcionar como um fundo mesmo.

 

a aplicação é bem simples, sem segredos | imagem: arquivo pessoal
muro logo após a segunda demão | imagem: arquivo pessoal

Após a aplicação da segunda demão, o resultado é o da imagem acima, a cor fica bem forte, mas logo em seguida vai secando, desbotando e aparecendo várias manchas, como na foto a seguir. Não se assuste, a cor sempre será mais clara mesmo e após secar totalmente, as manchas ficarão mais uniformes também.

 

segunda demão durante secagem | imagem: arquivo pessoal

Ah, uma dica importante é esperar por um dia bem quente para fazer a pintura, assim a secagem acabará sendo bem rápida e as demãos poderão ser aplicadas uma logo após a outra. Outro detalhe importante, a parede não pode ser molhada nos próximos dias após a pintura, então evite os períodos de chuvas!

Agora vejam só como o tom forte do amarelão clareou após a secagem, confesso que não era bem como eu esperava, deveria ter sido mais generosa com o pigmento, mas não é que ficou bacana? O muro do outro lado ficou diferente, num tom mais ocre, mas combinaram bastante e irão aguardar juntinhos pelo término da reforma do quintal.

 

muro amarelo finalizado | imagem: arquivo pessoal

E o resultado foi esse, muros renovados a um custo extremamente baixo, utilizando materiais e técnicas sustentáveis e ainda com aquela sensação boa de ter colocado a mão na massa para transformar espaços tão importantes em sua vida!