Travessia de navios inédita pelo Ártico

Graças ao aquecimento global e ao derretimento da calota polar do Ártico, uma rota antes impossível de ser navegada, está prestes a ser concluída até o fim do mês.

Dois navios alemães, o MV Beluga Fraternity e MV Beluga Foresight, da empresa Beluga Shipping GmbH, serão os primeiros a navegar por inteiro a Passagem Nordeste, como é conhecido o trajeto via Ártico entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

mv beluga fraternity e mv beluga foresight l imagem: beluga shipping gmbh
mv beluga fraternity e mv beluga foresight l imagem: beluga group

Se usassem a rota habitual, atravessando o Canal de Suez, no Egito, os barcos percorreriam 20 mil km até o porto de Roterdã, na Holanda, o destino final das embarcações.
A opção pela Passagem Nordeste fez com que a distância encolhesse 26%, o que representa uma economia de combustível de U$100 mil por navio.

Apesar da mudança do clima, a região só é navegável durante três ou quatro semanas por ano e devido às condições climáticas adversas e às placas de gelo de centenas de quilômetros que flutuam no oceano, a viagem continua uma aventura imprevisível.
Essas condições fazem com que ainda leve tempo para que a rota seja considerada uma opção confiável para todos os tipos de cargueiro.

Sobre o degelo do Ártico

A temperatura no Ártico aumentou 2º C s no último século, o dobro da média mundial.
O resultado é uma espiral de derretimento que reduziu a camada de gelo permanente em 40%.

Essa redução vem se apresentando constante desde cerca de 1980, e a cada ano revela-se uma média de 100 mil km² de oceano aberto, à medida que se derrete o gelo que antes o cobria.
Só em setembro de 2005, uma área de mar gelado do Ártico do tamanho do Alasca desapareceu sem deixar vestígios.
A camada de gelo também está mais fina: sua espessura encolhe, em média, 17 centímetros por ano.

círculo polar ártico l imagem: wikipedia
círculo polar ártico l imagem: wikipedia

Mas o ponto crucial de desequilíbrio acontece quando o próprio derretimento acelera todo o processo.
Isso porque enquanto o gelo branco e brilhante, recoberto de neve, reflete mais de 80% do calor solar que incide sobre ele, o oceano aberto, mais escuro, pode absorver até 95% da radiação solar incidente.

Em outras palavras, uma vez que o gelo do mar começa a derreter, o processo rapidamente se torna auto-reforçador, pois maior superfície oceânica fica à mostra, absorvendo o calor do Sol, elevando as temperaturas e tornando mais difícil a recomposição do gelo no inverno seguinte,

O paradoxo do aquecimento é que, conforme o gelo derrete, o Oceano Ártico se abre à navegação e viabiliza a exploração de riquezas até então intocadas.
Estima-se que a região concentre 13% das reservas de petróleo e 30% de todo o gás natural do planeta.
Seis países que fazem fronteira com o Círculo Polar Ártico (Estados Unidos, Canadá, Rússia, Noruega, Dinamarca e Islândia) disputam o controle desses recursos.

Fonte: Planeta Sustentável