Masdar City, a cidade "sustentável"

Um projeto arquitetônico grandioso promete transformar as dunas de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, no modelo de cidade do futuro.

Batizada de Masdar City, a construção tem a sustentabilidade como foco,  promete ser isenta de emissões de CO2, e, para isso, contará com tudo que o conhecimento humano e o dinheiro dos maiores petroleiros árabes podem conseguir, como tecnologia de ponta e investimento da casa dos US$ 22 bilhões.

maquete eletrônica de masdar city | fonte: exame

A iniciativa vai abrigar 40 mil habitantes e 1,5 mil empresas de tecnologia limpa, além do já operante Masdar Institute of Science and Technology, uma universidade com foco em pesquisa e inovação, desenvolvida em cooperação com o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e o Imperial College.
Também será instalada, na região, a sede da IRENA (International Renewable Energy Agency) que hoje funciona em Abu Dhabi.

Por ironia ou não, o projeto, resultado de uma parceria do governo local com os sultões do “ouro negro” dos Emirados Árabes, visa ser um modelo que ajude a preparar o país para a era pós-petróleo, na qual o mundo terá que se adaptar em todas as esferas de produção e consumo.

O Emirado planeja suprir 7% de suas necessidades energéticas com fontes renováveis em apenas uma década.
Há dois anos em construção, Masdar City deverá ser concluída em 2016.

O projeto arquitetônico

Segundo o responsável pelo projeto, o renomado arquiteto inglês Norman Foster, o resultado de tanto empenho será uma cidade com matriz energética 100% renovável, uso exclusivo de transporte público, refrigeração natural dos edifícios e ruas da cidade baseada na arquitetura árabe tradicional, e até documentação dos habitantes totalmente digital para evitar o uso de papel.

Todas as ruas de Masdar contarão com prédios projetados em ângulos que facilitam a criação de sombras e ajudam na manutenção de uma temperatura agradável.
A cidade estará livre de consgestionamentos, onde o sistema de transporte, todo elétrico, vai operar no subsolo.

Questões sociais

Mas será que a cidade ultra-sustentável será mesmo um modelo possível de ser reaplicado em todo o mundo?
Para o crítico em arquitetura do jornal New York Times, Nicolai Ouroussoff, o projeto não passa de uma “Disneylândia” verde.
Em um artigo publicado no jornal de domingo, 26 de setembro, Ouroussoff falou sobre as impressões de sua visita ao projeto, que já está pronto para receber os primeiros moradores.

Para Ouroussoff, a cidade não é apenas uma miragem futurista e tem muitos pontos positivos, como a integração entre tecnologias de última geração e o design antigo das cidades árabes, inserida em uma sociedade que convive com o tradicional e o moderno diariamente. “Uma visão que, a princípio, transborda esperança”, afirma.

Mas basta ser analisado mais profundamente para que o projeto comece a revelar seus pontos fracos.
Segundo a questão levantada por Ouroussoff, a aparente sustentabilidade de Masdar City pode estar fadada a permanecer presa na areias de Abu Dhabi, e inacessível ao resto da humanidade.

“O projeto reflete uma mentalidade de condomínios fechados que tem se espalhado pelo mundo como um câncer durante décadas. Sua pureza utópica e seu isolamento da vida das cidades reais estão fundamentados na crença, ao que me parece aceita pela maioria das pessoas hoje, de que a única maneira de criar uma comunidade verdadeiramente harmoniosa, verde ou não, é isolando-a do mundo em geral”.

E o economicamente viável e socialmente justo, onde ficam?
Por que o projeto não busca atender aos problemas já existentes nas grandes cidades (que não são poucos)?
Ao meu ver, criar uma utopia no meio do nada, perfeitinha e em um ambiente totalmente controlado acaba sendo bem menos complexo do que enfrentar todos os problemas sociais existentes no mundo real.

Apesar de todo o incrível investimento tecnológico do projeto, com soluções que devem mesmo ser disseminadas ao mundo, vejo Masdar City como mais um exemplo de sociedade privilegada em busca de conforto e que se esconde cada vez mais daquilo que não quer ver.

Fonte: Exame e Terra